Thursday, July 05, 2007

BREVE INVENTÁRIO DAS DORES


Não me preocupa muito aquela dor sufocante, diante da qual parece que o mundo vai acabar. Aquela dor eu sei que passa, numa hora ou noutra. Vai embora. Metade passa com um dilúvio de lágrimas. Metade passa porque é mais surpresa do que dor mesmo. Um dia eu acordo e ela virou lembrança, para a qual olho com certo cinismo. Como são fáceis as dores agudas, que se expressam de repente, mas, é assim também que vão.

Me deixa apreensiva, contudo, a dor fininha, quase imperceptível, sublimar. Ah. Esta está no ultimo pensamento antes de dormir. E meio sem querer, meio sem saber, é nela que penso primeiro quando acordo. Paro um minuto na loucura do dia a dia, e lá vem ela dar satisfação. Me assusta a dor que não cansa de doer. A dor que se esconde e aparece em momentos inesperados. Aquela dor que se camufla o tempo inteiro, fingindo que é só cansaço ou desânimo, para me fazer acreditar que acabou. Me preocupa a dor sem esperança. A dor que se recusa a virar lágrimas, a dor seca.

E, apesar disso, não consigo escolhê-las.
(Ouvindo: Fergie - Big Girls Dont Cry)