Monday, February 25, 2008


Se eu pudesse ser um sentimento, seria a fé. Não uma fé religiosa, devota a mistérios divinos. Uma fé maior, que tivesse por fundamento aquelas coisas que nos fazem ficar bobos, sabe? Iria jogar na cara dos céticos de plantão (inclusive eu mesma, de vez em quando) que pessoas sobrevivem soterradas, depois de terremotos, por dias e dias a fio. Mostraria reportagens recentes e antigas contando histórias de gente que sacrificou a própria vida (e nem pense que vou falar da Bíblia) para salvar outras tantas. Contaria dos meus pais que, loucos como foram e são, tentaram fazer de tudo para me proporcionar um futuro melhor, apesar de tantas adversidades. Se eu fosse a fé, seria impiedosa. Não admitiria contrariedade. Exibiria como troféu, tanta gente que perdeu toda a família no holocausto da vida e conseguiu amar de novo, com plenitude; gente que nasceu e viveu em jardim cheio de ervas daninhas e se transformou em planta vicoça. Sem falar naqueles que mostram generosidade tocante quando têm tão pouco pra dar. Ah, seu fosse a fé. Seria irônica e perguntaria em tom debochado quantas vezes o sol nasceu e se pôs diante dos seus olhos, quantas estrelas cairam sem avisar, quantas luas cheias inadvertidas brilharam em suas noites. Aliás, perguntaria porque as maiores dores não deixam cicatrizes? Se eu fosse a fé, lembraria que hoje há vacina para tantas doenças fatais de tempos atrás. E apontaria para gente de bem, que ganha pouco, sua muito, para que você tenha uma vida melhor. Gente que é feliz com 10% do que você ganha. Se eu fosse a fé, quanto tempo conversaríamos? Quanto tempo seria necessário para você compreender que eu não dou um ponto sem nó, não perco nenhuma batalha. Porque carrego na mala tantos milagres que você nem pode imaginar.

Se eu fosse a fé, seria tão poderosa, tão determinada, tão segura e confiante, que me sentiria a vontade para usar como clichê: "não há mal que dure para sempre". Se eu fosse você, entenderia que não se vai muito longe sem mim, mas que você vai ter que descobrir um modo de fazer isso e, quanto mais rápido melhor. Pra você.

(Ouvindo: Colbie Caillat - One Fine Wire)