Beber, cair e levantar...

"Tão estranho carregar uma vida inteira no corpo, e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, dos medos, dos choros."

(Caio F. Abreu)

(Ouvindo: She - Elvis Costello)

Pensando...pensando, pensando...

Certas coisas na vida são de um jeito e pronto, são. Não adianta brigar, acreditar, correr atrás. Elas não mudam. Seguem seu caminho, o mesmo que sempre foi. O tempo passa, todo o resto muda, mas certas coisas apenas permanecem.

E faz parte da vida a gente aprender a aceitar essas coisas. Aceitar que, por mais que a gente deseje que seja diferente, certas coisas apenas seguem sendo, como sempre foram. Talvez seja o grande gesto de generosidade, humildade diante do curso da vida, imenso demais pra caber na palma de nossas mãos. Talvez seja o desprendimento de estender os braços e deixar que vá. Que siga por onde tiver que seguir e cumpra sua jornada, seja ela qual for.

Então, digo apenas que eu não quero alguém que faça o que eu faço ou o que eu quero. Quero apenas alguém que me complete com meus milhões de defeitos e minhas poucas qualidades. Não procuro uma pessoa perfeita e sim alguém que admita seus erros e cometa novas, não os mesmos. Sei conviver bem com erros! Só não me dou bem com os que sempre se repetem...Não quero alguém que se cale e que aceite tudo sempre. Quero alguém que me ouça quando eu quiser falar, seja paciente quando eu quiser chorar e respeite quando eu simplesmente me calar...Quero alguém em quem acreditar sem desconfianças e receios como sempre fiz ao longo da minha vida...

"preciso sim, preciso tanto de alguém que aceite tanto meus sonos demorados quanto minhas insônias insuportáveis. tanto meu ciclo ascético Francisco de Assis quanto ciclo etílico bukovskiano. que me desperte com um beijo, abra a janela para o sol ou a penumbra. tanto faz, e sem dizer nada me diga o tempo inteiro alguma coisa com eu sou o outro ser conjunto ao teu, mas nao sou tu, e quero adoçar tua vida. preciso do teu beijo de mel na minha boca de areia seca. preciso da tua mão de seda no couro da minha mão crispada de solidão. preciso dessa emoção que os antigos chamavam de amor, quando sexo não era morte e as pessoas tinham medo disso que fazia a gente dissolver o próprio ego no ego do outro e misturar coxas e espíritos no fundo do outro-você, outro-espelho, outro-igual-sedento-de-não-solidão, bicho carente, tigre e lótus." ( Caio F. Abreu)

(Ouvindo: carros, motos, gente, vento...silêncio..)